Thursday, February 02, 2006

UMA QUESTÃO DE VISÃO

A revista Visão, na sua edição de hoje, diz que sabe que o governo liderado por José Sócrates anda a “ver” se cria uma secreta, que ninguém veja, que obedeça e reporte apenas ao Primeiro Ministro, à revelia da Assembleia da República ou de qualquer outro poder que a controle.
Só o simples facto de esta notícia sair, noutros tempos não longínquos, seria o bastante para um certo senhor, (que vai agora sair da cena política portuguesa, finalmente, - pode ser que se junte ao outro cadáver político que dizem que por aí andou nas presidenciais) a classificasse como um episódio, a somar a outros, e que em nada abonariam a democracia – como foi o episódio do suposto saneamento de Marcelo da TVI, facto que até levou o PR a recebê-lo em Belém. Como o “episódio” é da lavra do governo que ele lá pôs, já se sente bem em dizer que não se preocupa - se não se preocupa com uma secreta incontrolável, com o que é que há-de preocupar-se... Estranha forma esta de actuar de alguém que ainda há pouco tempo berrou pelo facto de haver escutas a si mesmo, que ninguém controlava, sem antes curar de saber se as havia mesmo ou se não era jornalismo sensacionalista e aproveitamento político. Agora, com a suspeita de uma secreta, que vigiaria quem o PM quisesse, sem que ninguém soubesse, diz, em passo acelerado, não ser algo de preocupante. Eu bem percebo o critério: se o facto, ou acto, é praticado por alguém que se opõe ao seu partido ou que teve a coragem de afrontar o mesmo, ou seja, o PSD e Souto Moura, o facto é preocupante, se é o seu próprio partido a fazer ou dizer, já nada preocupa.
Entretanto o Governo, que, segundo a Visão, queria criar algo que ninguém visse, veio dizer apenas, que tudo era falso, e que iria proceder judicialmente contra a revista e o articulista.
Ora como sempre, em Portugal, dizer isto ou nada é a mesma coisa. Proceder judicialmente seria fazer queixa ao ministério Público pela difamação. Ora para o fazer, em primeira instância teria que se provar que era falso. A prova de que era falso só se consegue com uma investigação autónoma do MP, ao próprio PM, e ao governo, para que todos soubéssemos que, de facto, a notícia era falsa. Se for o governo a investigar, ninguém acredita, porque se investiga a si mesmo, se for uma comissão da AR, nem daqui a 10 anos sabemos as conclusões, pelo que, só se for alguém externo e independente, ou seja, o MP, é que os resultados podem ser credíveis. Mas teria que ser uma investigação pedida pelo governo, que fosse célere e dirigida por um Procurador-Geral e que fosse independente de qualquer participação crime por difamação que qualquer membro do governo faça.
É que isto de dizer que se vai para os tribunais para depois a queixa anda lá 6 meses em inquérito, e mais não sei quanto tempo para ser julgada, e quando acabar o último recurso possível já ninguém se lembrar do que aconteceu é algo que não diz nada às pessoas e, acima de tudo, não esclarece o problema no momento em que ele surge.
Entretanto, após a ameaça de participação criminal a Visão veio reafirmar tudo quanto está na sua edição, avisando que vai continuar a investigar.
Aguardamos pela verdade, não nos bastando os berros de “virgem ofendida” dados pelo governo, como esclarecimento para o caso, nem basta que digam que é falso, pois também disseram que não aumentavam os impostos e aumentaram, pelo que, a sua palavra, politicamente falando, neste momento, vale pouco.
Fotografias e Fonte: Visão Online

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