Monday, September 04, 2006

[INCOMPETÊNCIA NO COMBATE AOS INCÊNDIOS]

Ontem escrevi o texto a que seguir publico, a fim de o publicar hoje no blog, só o fazendo agora por me ter sido impossível antes.
A gestão do combate aos incêndios em Portugal é incompetente. Essa incompetência não se alastra aos bombeiros que o dão o seu melhor com os meios com que têm que trabalhar, a incompetência é acima de tudo dos governos.
Este post foi-me suscitado por uma notícia que vi agora mesmo, no jornal da noite sobre um incêndio que deflagrou de novo no parque nacional da Peneda - Gerês, na zona de São Bento, santuário existente na zona.
Na notícia dizia-se que o incêndio havia deflagrado perto das 17.30h e que era combatido por 40 bombeiros e que já por lá tinha passado um helicóptero. Acrescentavam, também,
que era o ÚNICO incêndio por circunscrever no país mas que o combate era difícil porque, apesar de haver alguns acessos, o carácter muito íngreme do terreno, impedia qualquer aproximação das viaturas ao fogo.
Este é o problema de todos os fogos neste país. O Governo, para poupar, estabelece as seguintes regras: para pequenos incêndios pequenos meios de combate, para médios incêndios médios meios de combate, para grandes incêndios grandes meios de combate.
Com esta política o que é que invariavelmente acontece?
A lógica desta política leva a que, com meios da dimensão do incêndio, os bombeiros se tiverem sorte conseguem dominá-lo, se não tiverem sorte (mudanças de temperatura, ventos fortes, mudança de direcção dos ventos, etc) ele passa a médio, como de costume. Depois de ser médio, mandam meios médios, esperando de novo que a sorte volte à baila, até ele ficar gigantesco, incontrolável e já só parar se a temperatura ajudar, se a chuva vier, se não houver vento, etc, etc, etc.
A pergunta impõe-se: se não havia nenhum outro incêndio por circunscrever em Portugal para além deste porque é que não foram enviados mais meios para o local, nomeadamente meios aéreos pesados?
Porque o que dita o uso desses meios é o dinheiro que os governos gastam, não são os hectares que vão arder.
A lógica do governo é a seguinte: Se o incêndio é grande, justificam-se os milhares de euros a gastar por cada voo com os meios pesados, se o incêndio é pequeno não vale a pena gastar dinheiro em meios pesados. Tudo a pensar nos euros e não nos milhares de hectares ardidos, nos riscos para as populações, no impacto que o fogo tem na pastorícia, na agricultura, etc.
Se o Governo pensasse nos milhares de hectares que se poupariam, nos riscos para as populações que se evitariam, no evitar do impacto do fogo na pastorícia e na agricultura, na segurança e na vida dos bombeiros que combatem o fogo em terra, certamente o que critério seria outro. Se assim fosse, o critério seria: para um incêndio pequeno, meios pesados, antes que ele se torne médio ou grande e conduza a uma catástrofe. Se na Peneda – Gerês os meios pesados tivessem sido enviados logo de início, naquele preciso momento em que ainda era de dia, as condições climatéricas eram boas e em que mais nenhum incêndio por circunscrever lavrava em Portugal, seguramente a esta hora já não haveria incêndio porque aquelas zonas inacessíveis por terra, seriam combatidas energicamente por ar e o fogo seria controlado em pouco tempo.
Mas isso seria impensável para o Governo. Estou mesmo a imaginar o António Costa
em choque dizendo aos seus colaboradores: Que horror seria gastar tantos milhares de euros só para impedir que ardam apenas meia dúzia de hectares.
Lamentável meu caro António, lamentável.

Verifico hoje, de novo no jornal da noite, que o incêndio de ontem para hoje aumentou, que já não são 40 mas 100 bombeiros, que já não é um mas dois helicopteros.
O dia passou e tudo o que pensei e passei para o papel ontem tornou-se infelizmente realidade hoje.
Amanhã, se tudo continuar na mesma, será bem pior.
Estamos "entregues aos bichos" é o que é.

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